sábado, 15 de novembro de 2008

Carta aos meus algozes

Gostaria, em primeiro lugar como cidadão e em segundo lugar como autor, de manifestar a minha estima, admiração e profundo respeito por todos aqueles que formaram essa maravilhosa equipe de avaliadores de livros de Matemática, montada pelo MEC, com o propósito de tornarem públicas suas indiscutíveis opiniões pessoais a respeito de livros didáticos de Matemática de 5a a 8a séries do ensino fundamental.
Devo confessar que me sinto a um só tempo privilegiado, honrado e chocado.
Privilegiado, pelo fato de ter tido minha coleção – Fundamentos da Matemática – avaliada e excluída por tão doutas e judiciosas pessoas, cujos comentários e críticas, feitos sempre de maneira tão criteriosa, indiscutível e inapelável encontram sustentação nos conceitos daquela que poderíamos conceber como Teoria Matemática do Etéreo. Esses conceitos, embora por mim desconhecidos, são por mim respeitados, pois pude perceber, após a leitura das críticas feitas a cada um dos livros de minha coleção, o quanto eles contribuíram para o meu crescimento intelectual e o quanto ainda tenho a aprender com os Senhores.
Honrado, por ter sido um dos excluídos. Fico imaginando a inveja que matemáticos do porte de Euclides, Arquimedes, Gauss, Newton, Pitágoras e outros tantos, não devem estar sentindo de nós, os excluídos, por não terem tido a oportunidade de terem suas obras avaliadas pelos Senhores. Com certeza, se os critérios de avaliação se mantivessem os mesmos, suas obras encontrar-se-iam também na lista das excluídas.
Chocado, com a pobreza educacional de todos aqueles professores-educadores que vivem o dia-a-dia da sala de aula e que foram responsáveis pela adoção dos livros didáticos, hoje excluídos, e que constituem a parcela maior dos livros de Matemática utilizados na rede pública e na rede particular. Com certeza, a opinião daqueles que batalham humildemente o cotidiano de uma sala de aula é insignificante quando comparada à de mestres e doutores que trancafiados em seus gabinetes estão preocupados em colocar no mercado livros de matemática cujo texto contribua para o desenvolvimento da cidadania e, talvez por isso, não percebam que muitos dos alunos que estão aprendendo nesses livros, estão, também, passando fome.
Recentemente, fiz um trabalho, como free-lancer, para uma determinada empresa. Ao receber pelo serviço prestado, fiquei tremendamente admirado ao constatar um desconto de 30% sobre o valor combinado, a título de imposto de renda. Hoje, sinto-me muito feliz por saber que parcela desse imposto é utilizada para pagar pessoas que, como os Senhores, prestam serviços relevantes ao Governo e a Comunidade.




São Paulo, 07 de junho de 1998.


Francisco Ismael Reis

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